Vocês devem
estar curiosos, olhando essas palavras, tentando soletrá-las, entendê-las e se
perguntando: que coisa estranha, o que é isso? Será que estamos aqui procurando
a maior palavra do nosso idioma? Se estivéssemos com esse objetivo, a primeira
com 31 letras e a segunda com 25 letras, perderiam para aquela que é
considerada atualmente como provavelmente a maior de todas as palavras
existentes na língua portuguesa: PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO.
Deixamos para vocês contarem. Já contaram? São 46 letras.
Este imenso
vocábulo refere-se a quem apresenta doença pulmonar causada pela aspiração de
cinzas vulcânicas. Os dois termos que servem de titulo ao nosso artigo nem
existem no nosso vocabulário, mas foram por nós criados por conter um significado
assustador. Representam as iniciais de medicamentos tomados por dois pacientes.
O primeiro
paciente com 70 anos de idade, do sexo feminino, casada, nos foi enviada para
um Eletrencefalograma com cefaléia e tonturas, e tomava os seguintes fármacos: HALDOL, FENERGAN, AKINETON, RISPERIDON, PONDERA, RIVOTRIL, LEXOTAN, DIAZEPAN, EVISTA, CALCIO F 1000, OMEPRAZOL, DOLAMIN, ufa!
São doze medicamentos. Utilizei suas iniciais e formei o primeiro nome do
titulo do nosso artigo.
O segundo
também do sexo feminino, com 79 anos, diabética e hipertensa, cardíaca com
marca-passo, já tendo sofrido 2 AVCs, nos procurou também para realizar o mesmo
exame. Estava sendo medicada com HIDANTAL,
TICLID, VASOPRIL, GLIFAGE, SEROQUEL, AMARYL, ATENOLOL, DIGOXINA, ARELIX, ASSERT, IMOVANE. São onze medicamentos. Fiz o
mesmo procedimento, juntei as iniciais e acima está o segundo nome.
Temos muito que analisar, e discutir estes
dois casos, mas é bom que fique bem claro: não estamos sendo antiéticos por
estarmos usando o nome oficial dos fármacos, porque nossa intenção é dar maior
autenticidade ao nosso artigo, não estamos condenando os remédios, pois todos
têm suas indiscutíveis indicações, muito menos o fabricante, estamos sim
criticando a nós mesmos Médicos Alopatas
porque estamos exercitando cada vez mais a polifarmacoterapia ou Uso Irracional de Medicamentos.
Infelizmente
não temos maiores detalhes do banco de dados dos dois pacientes,
particularmente os referentes à posologia. Contudo podemos fazer algumas
suposições e seria bom fazê-las, pois serviria para despertar, chamar a atenção
do jovem colega iniciante na profissão bem como para uma reciclagem de nós
mesmos os mais experientes, apenas sobre a dose diária deixando de lado a
dosagem unitária de cada fármaco ou outras questões atinentes, até porque não teríamos
espaço suficiente.
Vamos supor
que nosso primeiro paciente tomasse 2 comprimidos diários de cada medicamento,
seriam 24 comprimidos por dia ou seja 1cp a cada hora ou 2 cps a cada 2 horas,
três a cada três horas e assim por diante até chegarmos a oito cada oito horas
ou doze a cada doze horas. Neste último caso o nosso enfermo encheria sua
“mãozinha” e tomaria os comprimidos com bastante calma e cuidado, um de cada
vez, para não engasgar-se. Caso isso acontecesse, poderia ser muito grave e até
mesmo letal na sua idade especialmente se morasse sozinho.
Por mais que
busquemos explicações, indicações, sintomas, queixas, “doenças” não
encontraríamos justificativas para tamanha polifarmácia.
E as interações medicamentosas? Se por pura curiosidade tentarmos ler suas
bulas, vamos nos espantar.
Para evitar
ocorrências como essas, deveríamos abrir um espaço na nossa consulta para
anotar o nome dos medicamentos do nosso cliente e ter a humildade de reconhecer
nossos limites e ignorância (não somos donos da verdade e do saber) e consultar
o Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) às nossas mãos em livro, ou
no computador, em frente do nosso paciente sem
sentir vergonha (eles adoram
quando o medico faz isso). Um dos maiores filósofos da humanidade Sócrates
conhecedor de que o limite de sua sabedoria era sua ignorância, dizia com muita
propriedade e reconhecida humildade: “Só
sei que nada sei”. Por que não
dizer o mesmo?
Se fôssemos nós os pacientes (e não é difícil,
pois somos humanos e também adoecemos e morremos) será que teríamos a coragem
de encher nossas mãos com 12 pílulas para depois engoli-las?
Quanto ao
segundo paciente que temos mais informações (é só ler logo acima seus
problemas) e por isso aparentemente mais doente (não diríamos que tem mais
doenças porque não existem doenças e sim
doentes) que o primeiro, colocaria em dúvida apenas a indicação do Hidantal
a não ser que tenha uma epilepsia lesional provocada pelos AVCs e o uso do
Seroquel que é o fumarato de quetiapina indicado principalmente na
esquizofrenia e secundariamente no transtorno afetivo bipolar.
Essa medicação
deve ser usada com cuidado em pacientes cardíacos com doenças.
cerebrovasculares, com tendência a convulsão (termo leigo, conhecido
cientificamente como crise epiléptica generalizada) e também ter cuidado no seu
uso concomitante com hidantoina (Hidantal). Todas essas restrições o nosso
paciente apresenta e além do mais ele é idoso com 79 anos. Insisto: VAMOS LER A BULA, VAMOS CONSULTAR A
INTERNET. Isso é o mínimo que podemos e devemos fazer, o correto mesmo é
estudar ou revisar Farmacologia Clinica e
Terapêutica e entender o que é farmacodinâmica, farmacocinética e Interação
Medicamentosa.
Pensemos
nisso, reflitamos, meditemos, sintamos na nossa pele, no nosso corpo, na nossa
alma. Acreditamos que a mais inteligente, mais humana, mais sábia citação da
humanidade é: “Não façamos aos outros, o que não gostaríamos que fizessem com nós
mesmos”.